Ano Litúrgico para os cristãos católicos difere do calendário comum: entenda por que !

O ANO LITÚRGICO
O Ano Litúrgico é a celebração do Mistério Pascal de Cristo com tempos e momentos definidos que, pedagogicamente, nos ajudam a penetrar de forma mais profunda no mistério de sua pessoa, sua pregação, sua vida e obra e, ao mesmo tempo, no seu mistério salvífico.
Ele é o período no qual a Igreja celebra todo o Mistério de Cristo desde a sua encarnação, passando pela sua morte na cruz, sua ressurreição, até o Pentecostes, mantendo-se na expectativa de sua nova vinda.
Sem dúvida o ponto central do Ano Litúrgico é a celebração da Páscoa do Senhor, ela é a matriz de onde emerge todo o tempo litúrgico e, por isso mesmo, é que o Domingo se reveste de um caráter especial para os cristãos: ele é o Dia da Ressurreição do Senhor, dia da esperança e da vitória, vitória de Jesus sobre o pecado e a morte. Embora todos os dias sejam santificados pela oração da Igreja e pela celebração da Eucaristia, o Domingo, Dia do Senhor, guarda um sentido especial, ele é também o dia da Igreja, que nasce da fé na ressurreição do Senhor e de seu anúncio; é o dia do Espírito, pois nele se deu também o Pentecostes; é o dia da Nova Criação inaugurada com a Ressurreição do Senhor; é dia da Família, do ser humano, do repouso tão necessário. Cada Domingo celebramos nossa Páscoa semanal, renovamos a Páscoa de Cristo em nossa vida e nossa vida na Páscoa de Cristo.
Vejamos agora como se divide o Ano Litúrgico. Ele é composto por três grandes ciclos: Natal, Tempo Comum e Páscoa.
CICLO DO NATAL
(divide-se em Tempo do Advento e Tempo do Natal propriamente dito):
Tempo do Advento: é tempo em que a Igreja se prepara para as solenidades do Natal. É o tempo litúrgico em que se comemora a primeira vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, entre os homens. Ao mesmo tempo, a Igreja, ao recordar a primeira vinda do Senhor, faz-nos recordar a segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos. Por isso mesmo, o advento possui um caráter de piedosa e alegre esperança. É composto pelos quatro domingos que precedem a solenidade do Natal.
Tempo do natal: após o mistério da páscoa, a Igreja considera venerável a celebração do natal do Senhor. Celebra-se a oitava:
No Domingo dentro da oitava, ou em falta dele, no dia 30 de dezembro, celebra-se a festa da Sagrada Família;
26 de dezembro: santo Estevão, protomártir da Igreja;
27 de dezembro: são João, apóstolo e evangelista;
28 de dezembro: os santos Inocentes;
29, 30 e 31 de dezembro: dias dentro da oitava;
1.º de janeiro: oitava do natal, celebramos a solenidade da Santa Mãe de Deus, na qual também se comemora a imposição do santíssimo nome de Jesus.
O Domingo entre os dias 2 e 6 de janeiro é II Domingo depois do Natal. A Epifania do Senhor é celebrada a 6 de janeiro. Aqui, no Brasil, no entanto, celebra-se no Domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro. No Domingo depois do dia 6 de janeiro, celebra-se a festa do Batismo do Senhor.
O ADVENTO
Não se sabe ao certo as origens do tempo do Advento, os estudiosos do assunto se dividem. Uns afirmam que este tempo, do qual já se tem notícias desde o séc. IV, servia de preparação para a celebração da primeira vinda de Cristo, outros dizem que, nas suas origens, se enfatizava a segunda vinda de Cristo (aspecto escatológico). A verdade é que a reforma litúrgica do Vaticano II (1965) preferiu manter as duas perspectivas no mesmo ciclo celebrativo. De fato, o primeiro domingo do Advento tem um caráter fortemente escatológico. Do primeiro domingo até o dia 16 de dezembro prevalece o caráter escatológico da espera da segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; do dia 17 de dezembro ao 24 se enfatiza a preparação para o Natal propriamente dito. As três figuras bíblicas mais marcantes deste tempo são: o profeta Isaías (representante da grande esperança nas promessas divinas nutrida pelo povo de Deus durante sua história); João Batista (o último profeta do Antigo Testamento e que resume em si toda a expectativa expressa pelas antigas profecias a respeito do Messias e Salvador, cujo cumprimento ele testemunha em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo) e Maria, a mãe de Jesus (a qual coopera de maneira única e especial no plano de salvação que Deus traçou para a humanidade, o mistério da vinda do Messias está estreitamente ligado à cooperação de Maria, fruto mais excelente da redenção operada por Cristo – daí a celebração da Imaculada Conceição no tempo do Advento, isto é, em 08 de dezembro) .
Na teologia do Advento destacam-se o caráter histórico-sacramental da história da salvação, isto é, a ação de Deus na História que, em Jesus Cristo, vem ao encontro de seu povo para salvá-lo. Jesus revela-nos a face do Pai (Jo 14,9). Outra dimensão que se sobressai é a escatológica, ou seja, estamos destinados à salvação (1Ts 5,9), mas o que seremos só se revelará no fim dos tempos (1Pd 1,5), no “dia do Senhor” (1Cor 1,8; 5,5); é a tensão entre o “já” e o “ainda não”, o Reino já presente e sua consumação na vinda gloriosa de Jesus Cristo. A dimensão missionária da Igreja também se faz presente neste tempo, pois o anúncio do Evangelho decorre da vinda de Jesus e a Ele conduz
“A comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, a conversão”.
O NATAL
A primeira notícia da celebração da festa do Natal vem de Roma, por volta do ano 336, onde se celebrava a mesma no dia 25 de dezembro. Nesta mesma data era celebrada, quase na mesma época, na África, segundo testemunho de Santo Agostinho. No norte da Itália o Natal se estabelece já no fim do séc. IV, como também na Espanha. Segundo S. João Crisóstomo, era celebrado também a 25 de dezembro, sendo uma festa de origem romana. O surgimento da festa do Natal cristão se liga ao desejo da Igreja de suplantar a festa pagã do “Natalis (solis) invicti”, isto é, a festa do Sol invicto, celebrada em 25 de dezembro. A intenção da Igreja era afastar os cristãos da idolatria e celebrar Cristo, “o Astro das alturas que nos veio visitar” (Lc 1, 78-79).
“A reforma litúrgica do Vat. II conservou substancialmente o enfoque anterior do tempo natalício; enriqueceu-o, porém, grandemente com textos e também com algumas celebrações, como, por exemplo, a missa vespertina da vigília; o restabelecimento da celebração da divina maternidade de Maria na oitava do natal, segundo a antiga tradição; maior destaque dado ao mistério do batismo de Jesus, celebrado no domingo depois da epifania; a festa da Sagrada Família, transferida para o domingo depois do natal. O tempo natalício, pois, vai desde as primeiras vésperas do natal do Senhor até o domingo depois da epifania inclusive, ou seja, até o domingo depois de janeiro (Normas sobre o ano litúrgico e o calendário, nn. 32-38) .
A teologia da celebração do Natal está intimamente ligada ao valor salvífico da encarnação do Verbo, nos reportam ao maravilhoso intercâmbio entre o divino e o humano, como o afirmava Santo Agostinho. A encarnação deve ser vista na sua orientação pascal (Hb 10, 5-10), isto é, o Filho que assume a natureza humana e um corpo para oferecê-lo ao Pai por nós. Outro ponto importante é a relação entre a encarnação do Verbo e o nascimento da Igreja e do povo cristão, além de ser fonte de solidariedade entre todos os seres humanos.
A EPIFANIA
Epifania quer dizer “manifestação” e designa, no Oriente, a festa do Natal, ou seja, a sua “aparição” na carne. A festa ortodoxa da Epifania é relatada por Epifânio na segunda metade do séc. IV, onde se celebrava a vinda do Senhor. Em Antioquia e no Egito, à época de S. João Crisóstomo a festa celebrava o nascimento e o batismo de Jesus. Migrando para o Ocidente ela passou a designar a “revelação de Jesus ao mundo pagão” simbolizada pela visita dos magos ao menino em Belém. Com a reforma litúrgica do Vaticano II se ressalta a universalidade da salvação na celebração da epifania, bem como o mistério esponsal entre Cristo e sua Igreja, por Ele purificada e santificada e o mistério da Igreja missionária que deve anunciar Cristo a todos os povos. As festas do “batismo do Senhor”, bem como a da “apresentação no Templo” são festas epifânicas.
CICLO DA PÁSCOA (divide-se em Tempo da Quaresma, Tríduo Pascal e Tempo Pascal).
“Tempo da Quaresma: este tempo visa preparar a celebração da páscoa. A liturgia quaresmal dispõe os catecúmenos para a celebração do mistério pascal, pelos diversos graus de iniciação cristã, pela celebração do batismo e penitência, e dispõe os fiéis pela renovação da graça. O tempo da quaresma vai da Quarta-feira de cinzas à missa da Ceia do Senhor, exclusive.
A semana santa visa recordar a paixão de Cristo, desde sua entrada messiânica em Jerusalém. Na Quinta-feira santa, o bispo benze os óleos e concelebra com seu presbitério, como sinal visível de comunhão e participação.
Tríduo pascal: Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, sobretudo, pelo seu mistério pascal, quando, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, renovou a vida. Por isso, o tríduo pascal e ressurreição do Senhor (que começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor) resplandecem como ápice de todo o ano litúrgico.
Tempo pascal: os 50 dias entre o Domingo da ressurreição e o Domingo de Pentecostes devem ser celebrados como se fossem um só dia de festa. O aleluia é símbolo dessa alegria. Os domingos desse tempo são I, II etc. de páscoa. No 40.º dia de páscoa, celebra-se a ascensão do Senhor, no Brasil, transferida para o VII Domingo de páscoa, ou seja, o Domingo seguinte ao 40.º dia de páscoa”.
TEMPO COMUM
“Além dos tempos com características próprias, restam no ciclo anual 33 ou 34 semanas. Nelas, não se celebra algum aspecto especial do mistério de Cristo. Comemora-se nelas o próprio mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos. Este período é o tempo comum. Inicia-se na Segunda-feira seguinte ao Domingo depois do dia 6 de janeiro e se estende até a Terça-feira antes da quaresma, inclusive. Recomeça na Segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e termina antes das primeiras vésperas do 1.º Domingo do advento”.
Ao longo do Ano Litúrgico inserem-se também as solenidades e festas referentes ao Senhor, à Virgem Maria, aos apóstolos e as festas e memórias dos mártires e santos, exemplos da vivência do Mistério Pascal de Cristo no cotidiano, através do testemunho da fé.
A liturgia da Palavra insere-se no contexto do Ano Litúrgico. O Lecionário da Igreja que compreende um ciclo trienal para os domingos (Anos A; B e C) e um ciclo bienal (Anos par e ímpar) para as celebrações semanais.
A título de conclusão: em rápidas pinceladas refletimos sobre a estrutura do Ano Litúrgico. Ele é um caminho mistagógico, isto é, um caminho que nos ajuda a introduzirmo-nos na vivência e experiência do Mistério de Cristo: seu nascimento, vida pública, morte, ressurreição, ascensão e sua presença na Igreja por meio da ação do Espírito Santo. Supliquemos ao Senhor que, com o auxílio da sua graça, todos de fato experimentos sua presença e os efeitos do seu Evangelho em nossa vida, através da ação da Igreja, seu corpo místico do qual Ele é a cabeça.
1 Cf. A. BERGAMINI, “Advento” in: SARTORE, D. e TRIACCA, Achile M. (ed.)., Dicionário de Liturgia”, Paulinas, São Paulo 1992, pp. 12-13.
2 Cf. idem, ibidem, p. 13.
3 A. BERGAMINI, “Advento”, p. 13.
4 Cf. A. BERGAMINI, “Natal/Epifania” in: SARTORE, D. e TRIACCA, Achile M. (ed.), Dicionário de Liturgia”, Paulinas, São Paulo 1992, p. 811.
5 A. BERGAMINI, “Advento” in: SARTORE, D. e TRIACCA, Achile M. (ed.), Dicionário de Liturgia”, Paulinas, São Paulo 1992, p. 811.
6 Cf. idem, ibidem, pp. 811-812.
7 Cf. idem, ibidem, pp. 812-813.
8 Citação literal de um livreto sobre liturgia..., pp. 13-14.
9 Citação literal de um livreto sobre liturgia..., p. 15.
Pe. Edilson de Souza Silva
Diocese de São Miguel Paulista