A Importância do Presépio e seus símbolos

O presépio, cuja origem remonta a São Francisco de Assis, tornou-se muito popular em muitas partes do mundo cristão católico. Em muitas culturas há o costume de colocar personagens atuais, o que demonstra a compreensão de que Cristo Jesus de fato quis encarnar-se, isto é, assumir nossa vida e nossa história, para redimi-la. A colocação no presépio de personagens tirados do cotidiano, como faziam os napolitanos, na Itália, pode ser vista como expressão desta fé na encarnação da Palavra: “Ele armou a sua tenda entre nós” (cf. Jo 1,14).
A mensagem que o Presépio nos transmite hoje é a de que no centro da festa de Natal está Jesus Cristo, Filho de Deus, a Palavra que se fez carne e habitou entre nós. Sua mensagem é de amor, misericórdia, vida e esperança. Deus se traduz numa criança, aproxima-se cheio de ternura, quer estar entre nós, estar conosco e, de fato, “Ele está no meio de nós!”.
As festas natalinas inspiraram também muitas manifestações populares ligadas à homenagem ao Menino Deus nascido em Belém, como por exemplo, as Folias de Reis, as danças das Pastorinhas e outras. São manifestações da piedade popular que expressam uma interpretação acerca do Mistério da Encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. Nestas manifestações unem-se músicas, danças, atos de generosidade e confraternização, partilha de alimentos, festa. Ao mesmo tempo em que se vislumbra a alegria que céus e terra manifestam pelo nascimento de Jesus, há também uma leitura espiritual sobre os fatos em torno do nascimento: a humildade e pobreza em que nasce o Salvador, tidas como exemplo para nós, a certeza de que este nascimento marca o início de uma nova era de salvação e alegria. Os “cantadores de reis” ou “foliões” sempre homenageiam o Menino no Presépio, quando este está presente em uma casa visitada por eles.
Em nossos lares, a montagem do presépio pode ser uma ótima oportunidade de evangelização na família. Seria interessante envolver todos os membros da casa nesta tarefa, especialmente as crianças, e aproveitar para explicar-lhes sobre a maravilha do Mistério que celebramos, o imenso amor de Deus que se faz um de nós para nos divinizar, se faz pobre para nos enriquecer, desce até nós para que possamos subir até Ele, insere-se na nossa vida e na nossa história.
Além de montar o Presépio, seria também muito bom que a família pudesse ter algum momento de oração junto a ele, no período do Advento, preparação para o Natal, ou mesmo na noite de Natal antes da ceia, por exemplo.
Pensando nisso, será interessante refletirmos, ainda que de modo breve, sobre os personagens e símbolos presentes no Presépio, de modo a tirar proveito desta riqueza. Sendo assim, façamos isto de modo esquemático e simples, para melhor compreensão.
Personagens e símbolos do Presépio.
Maria e José (Mt 1, 16.19.24; 2, 11; Lc 1, 27; 3,23; 4,22): Maria foi a escolhida para ser a mãe do Salvador. José foi o escolhido para ser seu pai adotivo. Ambos colaboraram fielmente e generosamente com Deus em seu projeto de salvação para a humanidade. Diante deles podemos nos perguntar: como nós temos sido instrumentos de Deus para que seu Reino se encarne no mundo em que vivemos hoje?
A estrela-guia (Mt 2, 2.9-10): sinal luminoso que guia os magos até o Menino que está para nascer – o Messias prometido ao povo Judeu também é o Salvador de todos os outros povos. Ele é a luz para os povos (cf. Mt 4,16). Jesus afirmou que Ele é a luz do mundo e que quem O segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida (cf. Jo 8, 12). E, do mesmo modo, disse que nós somos luz (cf. Mt 5,14). Como temos sido luz em casa, no trabalho, na escola, enfim, no mundo em que vivemos?
Os anjos (Lc 2, 8-15): se manifestam na alegria e anunciam a Boa-Nova aos pastores. A palavra “anjo” vem do grego e significa “mensageiro”. Podemos pensar: de que maneira posso ser um anjo para o irmão? Tenho anunciado a mensagem da Boa-Nova com a vida e a palavra?
Os pastores (Lc 8-15): excluídos e considerados impuros, mas que vão ao encontro d’Aquele que os ama, inclui, purifica e salva. Há muitos excluídos no mundo, e por diversas causas (sociais, culturais, econômicas, religiosas etc.). Como desenvolver a cultura da inclusão e não da divisão entre as pessoas? Tenho construídos pontes ao invés de muros?
Os Magos (Mt 2, 1.7.11.16): representam os povos pagãos que, encontrando Cristo Jesus – caminho, verdade e vida – “seguem por outro caminho”, isto é, convertem-se e recebem vida nova. São muitos os que buscam com sinceridade respostas para muitas questões profundas da vida e nós, muitas vezes, guardamos só para nós a alegria do Evangelho, que dá sentido à vida.
A gruta de Belém (Lc 2, 4.7): o Menino nasce em pobreza para nos enriquecer. A humildade de seu nascimento e a discrição em torno do mesmo, mostra a ternura e o cuidado de Deus que, fazendo-se homem, se aproxima delicadamente de nós – não quer nos assustar, mas faz-Se pequeno para que O acolhamos nos braços e no coração. São tantas as crianças que além da fragilidade própria de quem acaba de nascer, encontram-se também cercadas por situações degradantes e desumanizantes que as torna ainda mais frágeis e vulneráveis: pobreza, exclusão social, falta de acesso à saúde e educação – para citar algumas... Como posso contribuir para que o mundo seja melhor para elas e tantos outros?
Os animais – o boi e o jumento: baseiam-se na citação de Is 1,3 (“O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento” ) e simbolizam os dois povos que, em Cristo, tornam-se um (cf. Ef 2,14: “Porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava”). O boi representaria o povo judeu que carregava o jugo da Lei, o jumento representaria o povo gentio que carregava a carga do pecado e da idolatria. Santo Agostinho quando comenta o Salmo 126, faz uma comparação semelhante1. A propósito ver também Lc 13,15.
Fonte: 1 Esposizione sul Salmo 126. Discorso al Popolo. In: http://www.augustinus.it/italiano/esposizioni_salmi/esposizione_salmo_184_testo.htm (acessado em 18/11/2016).
O boi e o jumento, como também as ovelhas (símbolos dos sacrifícios da Antiga Aliança – cf. Nm 7,57-75, por exemplo, e da Páscoa Judaica – cf. Ex 12, 5ss), o galo (presente no episódio da Paixão, recordando a Pedro sua negação do Mestre – cf. Mc 14,72) e outros animais que são colocados no presépio fazem pensar também na exultação da própria natureza pela vinda de Jesus. De fato, o apóstolo Paulo fala que a criação geme em dores de parto esperando a manifestação dos filhos de Deus (cf. Rm 8,19). A partir daí posso pensar na forma como tratamos a natureza, os animais, plantas, recursos naturais... O cuidado da criação é também manifestação de amor a Deus e ao próximo. A Deus porque preservo os sinais de Sua beleza e o louvo pela sua bondade em nos ter dado tanto, ao próximo porque preservando a natureza estou ajudando a preservar a vida dos demais seres humanos e das gerações futuras. Como me relaciono com o meio ambiente e como trato a natureza e seus recursos?
As faixas que envolvem o Menino (Lc 2, 7.12): alusão ao sudário e à morte redentora de Jesus. No ano da misericórdia, encerrado em Novembro deste ano, refletimos muito sobre as obras de misericórdia e, entre elas, estava aquela que nos pede para “vestir os nus”. A partilha e a generosidade manifestadas neste gesto elevam-nos espiritualmente e dignifica o próximo. Ajudar o irmão, despido de sua dignidade, a ser recompor, é manifestação da misericórdia de Deus e sinal de seu Reino. Como vejo tudo isto?
A manjedoura que acolhe o Menino (Lc 2, 12.16): alusão a Jesus como alimento, Pão vivo descido do céu, na mesa de Deus, a mesa eucarística. Jesus se fez alimento para nós na Eucaristia e havia dito aos discípulos para dar de comer a quem tem fome. A fome do irmão nos toca?
Os demais personagens que são, por vezes, acrescentados: personagens da vida cotidiana, seja do tempo de Jesus, seja dos tempos de hoje – apontam para o Mistério da Encarnação da Palavra na História dos homens e mulheres de hoje, em seu cotidiano, para lhes atrair “ao alto”.
Para quem deseja aprofundar o significado das narrativas evangélicas acerca da infância de Jesus ver o livro: “A infância de Jesus” de Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI), Editora Planeta.