Com a Mãe Santíssima no Advento de Jesus!

(Medalhão da Sagrada Família, de Cláudio Pastro)
O Advento é um dos tempos do Ano Litúrgico pertencente ao ciclo do Natal. É um período, assim como os demais ciclos, Cristocêntrico. O termo “advento” origina-se do verbo latino advenire, que quer dizer “chegar”, “que está para vir”. Dessa forma, caracteriza-se como período de preparação, de espera d’Aquele que há de vir. Celebramos nesse tempo, as duas vindas de Cristo: o Natal (a manifestação de DEUS com o nascimento de Seu Filho unigênito, Jesus) e a Parusia (segunda vinda do Senhor, quando Cristo surgir em sua glória, no fim dos tempos). Esse é um tempo de esperança e devemos estar vigilantes: não durmamos como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios para celebrarmos a vinda do Senhor, pois “o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (I Ts 5:2).
No Advento relembramos a dimensão histórica da salvação e o caráter missionário da vinda de Cristo que se encarnou no seio da Virgem Maria para habitar entre nós, tornando-se presença salvífica na história, confirmando assim, a promessa e a aliança feitas pelo Senhor DEUS ao povo de Israel.
É importante lembrar que além do Profeta Isaías, figura do Antigo Testamento que anuncia o nascimento de Jesus, cabe destacar três personalidades essenciais, exemplos concretos de missionariedade: João Batista, a Virgem Maria e José. Cada um com seu ministério específico: João Batista, o precursor, com a missão de preparar os caminhos do Senhor; Maria, com sua missão de co-redentora que vai santificando o povo, levando o Cristo a todos; José, esposo castíssimo de Maria, homem justo, de fé e humilde que aceita a incumbência de ser o pai adotivo de Jesus. Descendente de Davi, José tem um lugar exclusivo no mistério da encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de “Filho de Davi”: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1:32-33).
Neste artigo vou deter-me na pessoa da Virgem Maria, pois mais do que em outro tempo litúrgico, o advento é um tempo essencialmente mariano. Nossa Senhora, desde o seu primeiro instante de vida, é toda bela (tota pulchra), é toda voltada para Deus. A vida da Virgem Maria foi totalmente íntegra e o seu coração pôde amar sempre a Deus sem divisões nem distrações. Ela soube corresponder à especial graça que lhe fora concedida, de modo que a existência da humilde mulher de Nazaré foi um perene "Sim" para Deus e, em Deus, disse "Sim" para os outros. Ela realizou em sua vida aquilo a que todo homem é chamado – amar a Deus e ao irmão.
A escolha de Deus tem sua razão de ser: Maria foi preservada de todo o pecado a fim de que se apresentasse como "a santa morada do Altíssimo" (Sl 45,5). Mas podemos dizer mais: Deus quis iniciar uma nova história e realizar uma nova criação. No entendimento de São Paulo, Deus quis "recapitular tudo em Cristo" (Ef 1,10). E, assim como uma mulher foi solidária com o primeiro Adão no início da história do pecado, o plano divino dispôs que, no reinício da história, estivesse presente, ao lado do novo Adão, que é Cristo, a nova Eva, que é Maria.
Ela é a “Mulher do Advento”, querida por DEUS no início da criação para ser a Mãe do Salvador: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4).
Destaco entre as memórias dos santos do mês de dezembro e suas festas, as solenidades marianas. A Festa solene da Imaculada Conceição de Maria celebrada no dia 8 de dezembro integra, desse modo, a recapitulação ou o novo início da história em Cristo. Todos nós somos chamados a fazer parte dessa nova história, história de graça e de santidade, de misericórdia, amor e perdão, de justiça e de paz. Maria Santíssima é inspiração e auxílio para nós. Ela é toda de Deus e, por isso, toda dos filhos de Deus. Por isso, a solenidade da Imaculada Conceição é celebrada no “centro” do Advento, constituindo-se assim, uma forma de preparação para o Natal. Maria Santíssima é Aquela que está unida ao Filho de Deus por vínculo estreito e indissolúvel e, por isso mesmo, sem o pecado original. Com o seu “Fiat” (Faça-se), Maria vive o seu silêncio na escuta do próprio Deus que chega: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra.”(Lc 1,37). Chamemos Nossa Senhora, Mãe de Deus, para caminhar conosco neste Advento. Que Ela seja sempre o modelo dos que esperam a vinda do Senhor, pois reconhecemos nossa fragilidade humana e somos necessitados de Deus. Como Maria Santíssima, sejamos sempre comprometidos e colaboradores com a obra de Deus, aprendamos a viver em Cristo e anunciá-Lo aos irmãos.
Outro importante título mariano celebrado durante o ciclo do Advento é o da Padroeira da América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, no dia 12 de dezembro. A aparição se deu ao índio Juan Diego que foi instrumento para realização do milagre das rosas na colina semidesértica em pleno inverno. O jovem recolheu as flores e levou em seu manto ao bispo que havia lhe pedido provas da aparição de Nossa Senhora. O feito se deu, mas outro milagre ocorreu, no manto onde estavam acomodadas as rosas ficou estampada a imagem de Nossa Senhora. É interessante ressaltar que a Virgem que apareceu a São Juan Diego estava grávida. Isso é sinalizado pelo cinto com lenço em sua cintura, da mesma maneira se apresenta Nossa Senhora na imagem da Imaculada Conceição.
A Virgem grávida no início do mês de dezembro é extremamente significativo. Essa é a expressão mariana no Advento. Maria é a estrela do Advento que nos guia nessa caminhada de preparação e expectativa da chegada do Messias. Não há melhor forma de viver o Advento do Senhor do que unindo-nos à Virgem grávida do Menino Jesus. Assim como o Bom Deus quis precisar do “Sim” de Maria, hoje, Ele quer precisar também do nosso “sim” para poder fazer renascer a Esperança e manifestá-la ao mundo. Como Maria se “preparou” para o nascimento do Menino Deus, a começar pela renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós precisamos nos preparar para vivenciar o nascimento de Cristo em nós mesmos e no mundo, também numa disposição de “faça-se em mim segundo a Vossa Palavra” (Lc 1, 38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, do nosso modo de viver, de agir, fazendo nascer em nós uma nova disposição para o perdão e para a reconciliação com Deus presente nos irmãos.
O Advento é um tempo para reconhecermos nosso Deus tão próximo. Pensemos na Eucaristia que em cada Missa Jesus se apresenta a nós, vivo e ressuscitado. Podemos dizer que cada Missa é um Advento, quando podemos nos regozijar pela alegria da nossa filiação divina. É um tempo favorável para a redescoberta de uma esperança concreta porque se fundamenta em Cristo, Deus feito homem, nosso Redentor. Que nesse momento escutemos a mensagem do Apóstolo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto” (Fl 4, 4) e caminhemos com a Mãe Santíssima no Advento de Jesus!
Nossa Senhora da Esperança, rogai por nós. Amém!
(Éder S. Sá Britto)