Santo do Mês - Apóstolo São Paulo

(Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão)
Estamos no mês de janeiro, este é repleto de memórias e festas de santos que marcaram a História da caminhada do povo de Deus e a construção do seu Reino na terra. Entre as festas, merece um especial destaque a conversão do Apóstolo São Paulo, celebrada aos 25 de janeiro.
Sua festa foi instituída na Gália (nome romano dado, na Antiguidade, para as terras dos celtas na Europa ocidental) no século VIII e por ocasião da trasladação de algumas relíquias do Apóstolo, entrou no calendário romano pelo fim do século X. Para nós, cristãos católicos, a conversão de São Paulo significa o poder da graça divina que renova todas as coisas, que foi capaz de transformar o velho Saulo, perseguidor da Igreja, no Apóstolo por excelência. Sua conversão é certamente um dos mais importantes acontecimentos da História da Igreja, que encontrou em Paulo a adesão à evangelização dos pagãos, bem como uma das primeiras reflexões teológicas sobre a mensagem cristã.
Após sua pessoal experiência com Cristo ressuscitado durante uma visão, quando ainda viajava rumo à cidade de Damasco prestes a prender cristãos, Saulo tem seu coração convertido a Jesus que se identificou com o seu povo perseguido e marginalizado. Com a mudança de seu nome, o novo Paulo marcou o início de seu apostolado e de sua total adesão ao evangelho de salvação e da misericórdia. De perseguidor que era poucos instantes antes, passou a servo fiel e a abraçar a Igreja de Cristo, pronto para obedecer aos mandatos do Divino perseguido. Por um simples toque de Sua graça, o Senhor transformou em Seu Apóstolo um dos mais fortes membros daqueles que tinham sido seus principais adversários, os fariseus.
Tornou-se, assim, o “Apóstolo das Gentes” e, através de suas viagens missionárias e das numerosas cartas com as quais sustentava na Fé o povo de Deus, fundou várias comunidades cristãs. São Paulo foi assentando os fundamentos da Igreja nascente. Assumiu posições fortes sobre a fé, o modo de vivê-la e sobre a abertura da Igreja aos gentios convertidos, pois até mesmo entre os próprios cristãos surgiram adversários com instruções equivocadas, como a de querer obrigar os pagãos recém-chegados às comunidades a praticar os costumes da Lei Mosaica. A esse respeito Paulo levou sua ousadia até o ponto de discutir com o próprio Apóstolo Pedro, “resistindo-lhe francamente, porque era censurável” (Gl 2, 11). São Pedro, a quem Jesus confiou o pastoreio do seu rebanho, aceitou com humildade o ponto de vista de seu irmão e apressou-se em colocá-lo em prática, favorecendo assim a expansão do evangelho de Cristo e obedecendo a ordem dada pelo Senhor: “Portanto, vão e façam com que todos os povos da terra se tornem meus discípulos...” (Mt 28,19).
A esse gesto de Pedro em acolher as orientações de Paulo podemos identificar a Igreja una que Cristo sonhou e quis que fosse instaurada em toda parte do mundo: Igreja que acolhe a todos sem distinção; Igreja que zela pela justiça e fraternidade; Igreja que caminha junto ao seu povo e busca aliviar o seu fardo ao invés de aumentá-lo; Igreja que busca alcançar a paz e o bem estar comum; Igreja que reflete e pratica a Misericórdia do Pai; Igreja que não escraviza mas, ao contrário, liberta e denuncia toda e qualquer forma de opressão; Igreja obediente aos mandamentos divinos e que valoriza a pessoa humana e sua dignidade, como nos recorda o Papa Francisco na encíclica sobre a alegria do Amor, “Amoris Laetitia”.
Encontramos desde São Paulo ao Papa Francisco uma Igreja missionária, em saída, fiel ao Espírito que a inspirou e mantém. Igreja que vai ao encontro das pessoas e anuncia que ninguém está excluído do Amor de Deus. Na missão do Apóstolo Paulo e na sensibilidade do Papa Francisco, sabemos bem o que quer dizer o “sensus fidelium”, ou seja, o carisma imediato do Espírito que nos conduz a fazer o bem. Aprendemos como Igreja militante o sentir do povo de Deus sobre o amor, sobre a vida, sobre a existência e sobre a ajuda aos mais fracos. Nestes tempos, tantas vezes o Santo Padre se refere diretamente à Igreja a fim de que ela seja o lugar onde se testemunha o amor de Deus por todos, e particularmente por aqueles mais vulneráveis e mais feridos.
No capítulo oitavo da carta encíclica “Amoris Laetitia”, o Pontífice nos recorda, com base nos ensinamentos paulinos, que “muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha” (AL 291), onde o acolher para cuidar, em primeiro lugar, e depois orientar e acompanhar para não mais se ferir, devem ser práticas e ações constantes. Nisso consiste o agir misericordioso de quem tem a Deus como Pai e ao próximo como irmão.
Possamos todos nós, irmãs e irmãos, pedir ao Santo Espírito de Deus que nos inspire durante todo o ano de 2017 e nos anos vindouros a bons propósitos e ações em defesa do bem comum e na promoção da igualdade e dignidade das pessoas. Que o povo de Deus, Igreja de Jesus Cristo, nascida entre os Apóstolos e difundida pelo ardor missionário de Paulo possa dar exemplo ao mundo de amor e socorro ao próximo nas suas necessidades corporais ou espirituais: dando de comer a quem tem fome; dando de beber a quem tem sede; vestindo os nus; dando pousada aos refugiados; assistindo aos enfermos; visitando os presos; enterrando os mortos; dando bom conselho; ensinando os que nada sabem; corrigindo os que erram; consolando os aflitos; perdoando as injúrias; sofrendo com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogando a Deus por vivos e defuntos, como adverte-nos a Palavra de Deus.
Dessa maneira, se cumprirá o que nos disse o santo Apóstolo: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, do povo de Deus, e sois membros da família de Deus” (Ef 2,19). Essa é a Igreja de Cristo, Igreja do Amor a Jesus presente no irmão.
Vale dizer que a Igreja que não exclui também não poderá ser a que se divide. “Estaria Cristo dividido?” (1 Cor 1, 13), perguntou o Apóstolo. Sua indagação lançada quase ao início da sua primeira Carta aos Coríntios deve ressoar a nós nestes dias. Naquele tempo e com grande tristeza, o Apóstolo soube que os cristãos de Corinto estavam divididos em vários segmentos, alguns afirmavam: “Eu sou de Paulo”; outros diziam: “Eu sou de Apolo”; e outros: “Eu sou de Pedro” (1 Cor 1, 12).
Nessa situação de divisão, Paulo “em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”, exorta os cristãos de Corinto a serem todos unânimes no falar, para que não haja, entre eles, divisões, mas perfeita união de pensar e sentir (1 Cor 1, 10). Porém a comunhão, a que chama o Apóstolo, não poderá ser fruto de estratégias humanas. De fato, a perfeita união entre os irmãos e irmãs só é possível se estiver sustentada no pensamento e nos “sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2, 5), afirmou Paulo.
Nesse ano que ainda se inicia assumamos os sentimentos de pertença real ao corpo de Cristo e anunciemos que Cristo, que não pode ser dividido, quer atrair-nos para Si, aos sentimentos do Seu coração, ao Seu abandono total e íntimo nas mãos do Pai, ao Seu esvaziar-se radicalmente por amor da humanidade. Só Ele pode ser o princípio, a causa e a razão e da nossa unidade. Isso nos ensinou o Apóstolo São Paulo em toda sua vida.
Não poderia deixar de mencionar ainda, que nossa cidade recebeu o nome de “São Paulo” por 25 de janeiro ser a data da chegada de São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, e seus companheiros, nessas terras. Ao edificarem aqui sua morada quiseram batizar a região com o nome do santo celebrado naquele dia.
Rezemos sempre e em qualquer circunstância pelo nosso Santo Padre, o Papa Francisco, para que o Senhor, Força dos que Nele esperam, possa sustentá-lo e encorajá-lo na difícil e exigente missão de Pastor universal. Que o Apóstolo São Paulo com seu ardor missionário e São José de Anchieta, o evangelizador do Brasil, auxiliem-nos para que, seguindo seus exemplos, sejamos unidos a Deus e a Igreja e verdadeiros construtores do Reino de Justiça, Paz e Misericórdia para todos, sem exceção. Assim seja!
Éder S. Sá Britto