Os Dogmas Marianos

(Texto distribuído no encontro de formação paroquial em 11/05/2017)
Dogmas são verdades de fé, tidos como revelados e, portanto, são inquestionáveis naquilo que proclamam. Eles podem ser cada vez mais bem compreendidos com o passar do tempo, mas o conteúdo que anunciam não pode ser alterado.
Hoje vamos refletir sobre quatro verdades de fé que dizem respeito à Maria, a mãe de Jesus. Importante ressaltar que tais verdades estão em ligação direta com o Mistério de Cristo, de sua pessoa e missão. Portanto, ao afirmar algo sobre Nossa Senhora, a fé deseja fazer com que Cristo seja melhor conhecido e acolhido como o Salvador da humanidade
Os quatro dogmas são: a maternidade divina – Maria é Mãe de Deus; a virgindade perpétua de Maria – ela foi virgem antes, durante e depois do parto; a imaculada conceição de Maria – ela foi preservada do pecado original em previsão dos méritos de Cristo e em vista da missão que receberia e, por fim, a assunção de Nossa Senhora – ao término de sua vida na terra foi elevada glorificada aos céus.
1) MARIA, MÃE DE DEUS (ver CIC n. 466 e 495).
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,41-43).
Com o surgimento de diversas heresias que negavam a divindade de Cristo, a Igreja sentiu a necessidade de defender a verdade acerca de Jesus Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, consubstancial ao Pai.
Do Concílio de Nicéia (ano 325) até o Concílio de Calcedônia (ano 451), a Igreja foi esclarecendo a fé que recebeu e que deveria guardar e transmitir integralmente e, neste ponto, afirmou que Maria, sendo mãe do homem Jesus de Nazaré deu à luz o Cristo que é verdadeiramente o Filho de Deus e Deus como o Pai, da mesma substância divina do Pai e tendo assumido a nossa natureza humana. Estas duas naturezas – a humana e a divina – estão unidas de modo indissolúvel na pessoa do Filho de Deus feito homem. Portanto, Maria, ao dar à luz Jesus, tornou-se Mãe de Deus. Assim diz o Concílio de Éfeso (ano 431), ao proclamar Maria como a Theotókos: “Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (DS 251).
Afirmar que Maria é Mãe de Deus é afirmar que Jesus é Deus. O Concílio de Calcedônia (ano 451) diz: “Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, semelhante a nós em tudo, menos no pecado: gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase” (DS 301-302).
O Catecismo da Igreja Católica trata da questão das duas naturezas de Cristo nos números 464 a 478. No número 466 ele recorda o Concílio de Éfeso que proclamou Maria como Mãe de Deus.
2) MARIA, SEMPRE VIRGEM (ver CIC n. 496 a 507)
“Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Is 7,14).
“Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 34-35).
Este dogma afirma que Maria foi virgem antes, durante e depois do parto. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “O aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo «não diminuiu, antes consagrou a integridade virginal» da sua Mãe” (CIC n. 499).
O Concílio de Latrão (ano 649), no cânon 03, proclama que está condenado por heresia aquele que nega que Maria seja Mãe de Deus, sempre virgem, santa e imaculada e que tenha permanecido virgem após o parto (cf. DH 503).
Nos dias de hoje e na cultura atual que valoriza demais as coisas materiais em detrimento das espirituais, é difícil visualizar o valor da virgindade de Maria como total consagração a Deus e à obra de seu Filho Jesus Cristo. Mas a virgindade de Maria, aspecto da sua santidade e total entrega a Deus, aponta-nos para “as coisas do alto” (cf. Cl 3, 2) e para o sentido último de nossa existência. Sua virgindade perpétua é também imagem da santidade da Igreja, da qual ela é figura e modelo. O Papa São João Paulo II diz na encíclica Redemptoris Mater (n. 39): “Maria consente na escolha divina para se tornar, por obra do Espírito Santo, a Mãe do Filho de Deus. Pode-se dizer que este consentimento que ela dá à maternidade é fruto da doação total a Deus na virgindade. Maria aceitou a eleição para ser mãe do Filho de Deus, guiada pelo amor esponsal, o amor que consagra totalmente a Deus uma pessoa humana. Em virtude desse amor, Maria desejava estar sempre e em tudo ‘doada a Deus’, vivendo na virgindade. As palavras ‘Eis a serva do Senhor’ comprovam o fato de ela desde o princípio ter aceitado e entendido a própria maternidade como dom total de si, da sua pessoa, a serviço dos desígnios salvíficos do Altíssimo. E toda a participação materna na vida de Jesus Cristo, seu Filho, ela viveu-a até o fim de um modo correspondente à sua vocação para a virgindade”.
A maternidade virginal de Maria estende-se a todos os fiéis, como ensina o Concílio Vaticano II: “Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio. Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe. Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom. 8,29), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe” (LG 63).
Há quem faça objeções à virgindade perpétua de Maria, por isso vejamos estes argumentos a partir da Bíblia.
O problema dos “irmãos” de Jesus: alegam alguns, baseando-se em Mc 6,3 que fala dos “irmãos de Jesus”, que o Senhor teria irmãos de sangue, filhos de Maria e José. Seriam eles: Tiago, José, Judas e Simão. Ocorre, porém, que a Bíblia mesma explica quem são eles. Em primeiro lugar é necessário dizer que a palavra “irmão” usada na Bíblia, no contexto da língua e cultura judaicas da época, refere-se também a parente próximo ou primo, e não necessariamente irmãos de sangue.
Tiago: filho de Alfeu e de Maria, parente de Nossa Senhora (Lc 6,15; Jo 19,25);
José: era irmão de Tiago (Mt 27,56)
Judas: era irmão de Tiago (Jd 1)
Simão: era irmão dos demais, como se denota dos textos acima.
Outro argumento bíblico a favor de Maria, mãe unicamente de Jesus é o fato de ela ter sido entregue como Mãe ao discípulo amado (Jo 19,26-27), pois caso tivesse outros filhos ficaria com eles. Além disso, não há menção de outros filhos do casal Maria e José quando se fala do encontro deles com Jesus, aos doze anos, no templo entre os doutores (cf. Lc 2,41-52).
O fato de a Bíblia falar do filho primogênito de Maria (Lc 2,7) não quer dizer que Ele tenha sido o primeiro de muitos, uma vez que o termo “primogênito” tem valor legal para os judeus (Ex 13,1; 34,19).
A questão do “até que” citado em Mt 1,25: “E não teve relações com ela até o dia em que deu à luz o filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus”. Baseados neste texto muitos dizem ter Maria se relacionado com José após o parto de Jesus. Para refutar tal argumento eu cito São Jerônimo (cerca do ano 383 dC), num tratado contra um tal Helvídio que questionava esta verdade (1):
Já que provamos que ele seguiu o uso da Escritura neste caso, com relação à expressão "até que" será completamente refutado pela autoridade da mesma Escritura, pois várias vezes significa um certo tempo sem limitação, como quando Deus diz a certas pessoas pela boca do profeta: "Até à vossa velhice Eu sou o mesmo"; acaso Ele deixará de ser Deus após essas pessoas envelhecerem? E, no Evangelho, o Salvador diz aos Apóstolos: "Estarei convosco até a consumação do mundo"; será que quando chegar o fim dos tempos o Senhor abandonará Seus discípulos e estes, quando estiverem sentados sobre os doze tronos para julgar as doze tribos de Israel, estarão privados da companhia de seu Senhor? Também Paulo, ao escrever aos Coríntios, declara: "[Cada um, porém, na sua ordem:] Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés". Certos de que a passagem relata a natureza humana de Nosso Senhor, não temos como negar que as palavras são Daquele que sofreu [morte] na cruz e que mais tarde se sentou à direita [de Deus]. O que Ele quer demonstrar ao dizer que "é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés"? O Senhor reinará apenas até colocar todos os seus inimigos sob os seus pés e, depois disso, deixará de reinar? É óbvio que seu reino estará começando quando seus inimigos estiverem sob os seus pés». (cap. 06). (...) «E da mesma forma devemos interpretar o que se conta a respeito de José. O Evangelista apontou uma circunstância que poderia causar escândalo, ou seja, que Maria não foi conhecida por seu marido até dar à luz, e ele (o Evangelista) agiu assim para que tivéssemos a certeza de que ela - de quem José se absteve enquanto havia lugar para dúvidas sobre a importância da visão - não foi conhecida depois de seu parto. (...) Eu diria então: quer Helvídio nos fazer acreditar que José, muito bem inteirado de tamanhas maravilhas, ousaria tocar o templo de Deus, a morada do Espírito Santo, a mãe do seu Senhor? Maria mantinha todos esses eventos "guardados em seu coração". Vocês não podem cair na vergonha de dizer que José desconhecia tudo isso, pois Lucas nos diz: "Seu pai e sua mãe ficavam maravilhados das coisas que diziam a Seu respeito"» (cap. 07).
3) MARIA, A IMACULADA CONCEIÇÃO [os textos a seguir são do CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIC), n. 490-494, de acordo com a versão online disponível em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html].
490. Para vir a ser Mãe do Salvador, Maria «foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão». O anjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como «cheia de graça». Efetivamente, para poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação, era necessário que Ela fosse totalmente movida pela graça de Deus.
491. Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, «cumulada de graça» por Deus, tinha sido redimida desde a sua conceição. É o que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX:
Por uma graça e favor singular de Deus omnipotente e em previsão dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada intacta de toda a mancha do pecado original no primeiro instante da sua conceição
492. Este esplendor de uma «santidade de todo singular», com que foi «enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição», vem-lhe totalmente de Cristo: foi «remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho». Mais que toda e qualquer outra pessoa criada, o Pai a «encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo» (Ef 1, 3). «N'Ele a escolheu antes da criação do mundo, para ser, na caridade, santa e irrepreensível na sua presença» (Ef 1, 4).
493. Os Padres da tradição oriental chamam ã Mãe de Deus «a toda santa» («Panaghia»), celebram-na como «imune de toda a mancha de pecado, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura». Pela graça de Deus, Maria manteve-se pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a vida.
FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA...
494. Ao anúncio de que dará à luz «o Filho do Altíssimo», sem conhecer homem, pela virtude do Espírito Santo, Maria respondeu pela «obediência da fé», certa de que «a Deus nada é impossível»: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus. E aceitando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da salvação, entregou-se totalmente à pessoa e à obra do seu Filho para servir, na dependência d'Ele e com Ele, pela graça de Deus, o mistério da redenção.
Como diz Santo Ireneu, “obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o gênero humano”. Eis porque não poucos Padres afirmam, tal como ele, nas suas pregações, que "o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé"; e, por comparação com Eva, chamam Maria a "Mãe dos vivos" e afirmam muitas vezes: "a morte veio por Eva, a vida veio por Maria"
4) MARIA, ASSUNTA AO CÉU (CIC n. 965-972).
A Assunção de Maria foi proclamada pelo papa Pio XII, a 1º de novembro de 1950, com a Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus”.
O texto a seguir é o que consta no CIC n. 965-972:
I. A maternidade de Maria em relação à Igreja.
INTEIRAMENTE UNIDA A SEU FILHO...
964. O papel de Maria em relação à Igreja é inseparável da sua união com Cristo e decorre dela diretamente. «Esta associação de Maria com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a concepção virginal de Cristo até à sua morte». Mas é particularmente manifesta na hora da sua paixão:
A Bem-aventurada Virgem avançou na peregrinação de fé, e manteve fielmente a sua união como Filho até à Cruz, junto da qual esteve de pé, não sem um desígnio divino; padeceu acerbamente com o seu Filho único e associou-se com coração de mãe ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que d'Ela nascera; e, por fim, foi dada por mãe ao discípulo pelo próprio Jesus Cristo, agonizante na Cruz, com estas palavras: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19, 26-27).
965. Depois da Ascensão do seu Filho, Maria «assistiu com suas orações aos começos da Igreja. E, reunida com os Apóstolos e algumas mulheres, vemos «Maria implorando com as suas orações o dom daquele Espírito, que já na Anunciação a cobrira com a Sua sombra
... TAMBÉM NA SUA ASSUNÇÃO...
966. Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha, para assim se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte. A Assunção da santíssima Virgem é uma singular participação na ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos:
No teu parto guardaste a virgindade e na tua dormição não abandonaste a mundo, ó Mãe de Deus: alcançaste a fonte da vida. Tu que concebeste o Deus vivo e que, pelas tuas orações, hás-de livrar as nossas almas da morte [Liturgia bizantina, Tropário para a festa da Dormição da bem-aventurada Virgem Maria: Horológion tò mega (Romae 1876) p. 215].
... ELA É NOSSA MÃE NA ORDEM DA GRAÇA
967. Pela sua plena adesão à vontade do Pai, à obra redentora do Filho e a todas as moções do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Por isso, ela é «membro eminente e inteiramente singular da Igreja e constitui mesmo «a realização exemplar ,o typus, da Igreja.
968. Mas o seu papel em relação à Igreja e a toda a humanidade vai ainda mais longe. Ela cooperou de modo inteiramente singular, com a sua fé, a sua esperança e a sua ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É, por essa razão, nossa Mãe, na ordem da graça.
969. Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto da Cruz, até à consumação perpétua de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna [...]. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira.
970. Mas a função maternal de Maria para com os homens, de modo algum ofusca ou diminui a mediação única de Cristo, mas antes manifesta a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salutar da Virgem santíssima [...] deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia». «Efetivamente, nenhuma criatura pode ser equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas, uma cooperação variada, que participa dessa fonte única.
II. O culto à Santíssima Virgem
971. Todas as gerações me hão-de proclamar ditosa» (Lc 1, 48): «a piedade da Igreja para com a santíssima Virgem pertence à própria natureza do culto cristão». A santíssima Virgem «é com razão venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de "Mãe de Deus", e sob a sua protecção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades [...]. Este culto [...], embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente». Encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, como o santo rosário, «resumo de todo o Evangelho
III. Maria - ícone escatológico da Igreja
972. Depois de termos falado da Igreja, da sua origem, missão e destino, não poderíamos terminar melhor do que voltando a olhar para Maria, a fim de contemplar nela o que a Igreja é no seu mistério, na sua «peregrinação da fé, e o que será na pátria ao terminar a sua caminhada, onde a espera, na «glória da santíssima e indivisa Trindade» e «na comunhão de todos os santos, Aquela que a mesma Igreja venera como Mãe do seu Senhor e como sua própria Mãe:
Assim como, glorificada já em corpo e alma, a Mãe de Jesus é imagem e início da igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, brilha na terra como sinal de esperança segura e de consolação, para o povo de Deus ainda peregrino (LG 68).
(1) Disponível em:
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/a_virgindade_perpetua_de_maria.html#III9http://www.terra.com.br/portal/ (acessado em 11/05/2017).
SUGESTÃO DE LEITURA PARA QUEM DESEJA APROFUNDAR-SE MAIS SOBRE A VIRGEM MARIA:
CANTALAMESSA, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja. Santuário, Aparecida 2008.