São João Maria Vianney

São João Maria Vianney: “O meu segredo é bem simples, é dar tudo e nada guardar”.
Caríssimos irmãos e queridas irmãs, estamos no mês de agosto e nele somos chamados a intensificar nossas orações pelas vocações. Vocação é um termo derivado do verbo latino “vocare” e significa “chamar”. É uma inclinação que leva a pessoa a exercer um determinado serviço e nele se realizar.
Rezar pelas vocações exercidas pela construção do Reino de Deus é pedir ao Senhor que não desampare aqueles que buscam viver a particularidade do seu chamado se colocando a serviço do outro, de um modo especial, servindo-o na Comunidade de fé. É suplicar que sejam suscitados novos irmãos e irmãs vocacionados a colaborar com o anúncio do Evangelho e a levar o Cristo Caminho, Verdade e Vida àqueles que não O conhecem. Na oração pelas vocações se cumpre a ordem dada por Jesus aos seus discípulos, pois os ordenou o Mestre: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9, 37-38)
Todos somos chamados a viver com alegria e esperança nossa vocação primeira, comum e mais importante de todas, ou seja, a vocação à vida cristã, que é vivida na comunhão fraterna e solidária. Não há vocação isolada ou afastada da Comunidade. Não se pode ser vocacionado na solidão do seu “eu” sem partilhar sua vida com os membros ou convidados a fazer parte da Família de Deus. A vocação cristã se realiza num chamado específico a alguém em particular, mas tal chamamento só se concretiza na livre e total entrega de si e dos seus dons àqueles que conosco caminham nesta vida rumo à Jerusalém Celeste.
A vocação à vida cristã existe para nós como sendo a “árvore comum” e que dela derivam “ramos” de vocações, essas festejadas durante as liturgias dominicais desse mês, a saber: vocações aos ministérios ordenados (celebramos no primeiro domingo); vocação matrimonial em vista da constituição familiar (celebramos no segundo domingo); vocações religiosas e à vida consagrada (celebramos no terceiro domingo); vocação do cristão leigo chamado a ser catequista (celebramos no quarto domingo).
Como modelo de perfeita e agradável vocação a hagiografia nos indica entre tantos outros santos a vida de São João Maria Vianney, o conhecido Cura d’Ars , como modelo a ser venerado em agosto, mês de sua entrada no céu. Nascido no ano de 1786 num pequenino vilarejo francês, Vianney vivia como um camponês sem muitas instruções intelectuais e culturais. Com pouquíssimo estudo e proveniente de uma família simples, mas bem religiosa, o jovem percebia desde cedo sua vocação ao sacerdócio. Antes, porém, de sua consagração a Deus, João chegou a servir o exército, mas foi expulso por sequer conseguir marchar conforme exigia o seu batalhão.
Muito tímido e com poucos amigos, o jovem se via muitas vezes em diálogo com Deus em suas orações, tornando-se cada vez mais íntimo de Jesus Cristo, imitando as virtudes da Virgem Maria e de grande vida penitencial. Dessa maneira, após ingressar no seminário, só foi possível se tornar sacerdote graças à vida de piedade conhecida por todos, pois não era capaz de acompanhar intelectualmente as exigências dos estudos em Latim, de Filosofia e Teologia. Sabe-se que apenas começou a ler e escrever com 18 anos de idade, já a caminho do sacerdócio.
Não obtendo notável prestígio entre o clero de sua diocese, após ser ordenado padre, João Maria Vianney não ingressou em seu ministério atuando em grandes universidades da França como muitos dos seus colegas sacerdotes, ou ainda, em igrejas tradicionais de sua região. O santo, que sempre foi auxiliado em seus estudos por um amigo padre, seguiu novamente os seus conselhos e aceitou ser pároco na pequena aldeia “pagã”, chamada Ars, onde o povo era dado aos cabarés, vícios, bebedeiras, bailes, trabalhos aos domingos e blasfêmias; tanto assim que suspirou o Santo: “Neste meio, tenho medo até de me perder”. Sabe-se que lá, as pessoas não gostavam muito de Deus. Dentro da lógica da natureza vem o medo, mas pela Graça, a coragem. Sempre firme e com o Rosário nas mãos, joelhos dobrados diante do Santíssimo, testemunho de vida, sede pela salvação de todos e enorme disponibilidade para catequizar, o santo se entregou à missão e encarou a realidade paroquial a ele confiada.
Passando a ser conhecido como o Cura d’Ars, o pároco do vilarejo, João dedicava boa parte de todos os seus dias em atendimento às confissões e direcionamentos espirituais (chegando a permanecer 18 horas dentro de um confessionário, alimentando-se apenas de batata e pão), não hesitando em alcançar a conversão de vida às suas ovelhas confiadas pelo Senhor. Em outros momentos estava ele a adorar a Pessoa de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do altar e na prática da caridade aos pobres de sua paróquia.
Dessa maneira, o Cura d’Ars, tornou-se para o povo daquela aldeia um exemplo de santidade e vida cristã perfeita e também de progresso à região, pois ali foi fundada uma casa-escola gratuita, a “Casa da Providência”, onde abrigavam-se meninas órfãs, abandonadas ou até então marginalizadas, também sua contribuição foi de fundamental importância para que uma ferrovia fosse construída naquele lugar, gerando emprego aos moradores e facilitando o acesso dos peregrinos que viajavam por vários dias à sua procura, atrás de conselho e absolvição. É fato que o seu imenso amor a Deus transformou a fundo os seus paroquianos e milhares de caminheiros de toda a França.
Vivendo seu apostolado por mais de cinquenta anos, São João Maria Vianney chegava a atender no confessionário 200 penitentes diariamente, passando de 70 mil por ano, entre paroquianos e peregrinos. Em sua biografia encontramos uma bela passagem onde certa vez, estava ele confessando as pessoas, quando seu sacristão veio desesperado lhe dizer que seu quarto estava pegando fogo. Ele calmamente disse ao homem: “Vai lá e apague o fogo, vou ficar aqui confessando. Isso é o demônio! Ele não consegue pegar o pássaro, então está queimando a gaiola” . E paciente continuou os atendimentos.
Vale destacar que quando chegou à cidadezinha ninguém veio recebê-lo, esteve por alguns dias só, mas quando morreu multidões de peregrinos o acompanharam para lhe dar seu último adeus. Passavam de 100 mil pessoas. Sua igreja local pela lógica humana teve receio em ordená-lo, conhecendo suas limitações intelectuais, porém mais tarde veio a se curvar à sua santidade e perfeita imitação do Cristo Servidor.
João Maria Vianney foi proclamado Venerável pelo papa Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo papa Pio XI em 1925 e pelo mesmo foi declarado padroeiro de todos os párocos e modelo especial para os padres diocesanos, em 1929. Foi ainda o grande inspirador para a instituição do Ano Sacerdotal, entre 2009 e 2010, por ocasião dos 150 anos de sua partida, proclamado pelo papa Bento XVI.
Esse é o Santo Cura d’Ars, cuja memória, celebramos no dia 4 de agosto. Que possamos, pois, viver nossa vocação seguindo fielmente o seu exemplo, colocando-nos a servir em total entrega aos necessitados de pão e perdão, e com ele dizer: “O meu segredo é bem simples, é dar tudo e nada guardar” .
São João Maria Vianney rogai por nós que recorremos a vós e pelos padres do mundo inteiro. Amém!